Falar de Aprender a Ser e ao mesmo tempo de on-line parece um contrassenso. Parece a todos e pareceu-me a mim, desde de início…como poderia eu levar um projeto que visa essencialmente o encontro da criança e do jovem consigo mesmo, à capacidade de se sentir, de se conhecer através das suas emoções, à partilha consigo próprio e logo com o outro, a partir de um ecrã e de um clique? Que sentido teria para mim, de repente, fazer exatamente o contrário daquilo que peço: “tirem os vossos filhos dos ecrãs?” “brinquem com eles” “aproveitem o pequeno sentido dos momentos” …mas a verdade é que os pedidos iam chegando, os pais iam falando os meninos perguntavam quando haveria “aprender a ser”.
No tempo que demorei a refletir, no que fui lendo, no que fui observando, nos pós e contras que fui assistindo, na incapacidade de uns se adaptarem, e mesmo se recusarem, e de outros levarem muito a sério esta nova forma de chegar aos alunos, quis perceber qual seria o objetivo do Aprender a Ser on-line e de que forma eu poderia levar algo de fato importante.
Para mim o objetivo tornou-se claro, proporcionar às crianças a minha presença, ainda que através de um ecrã, mas dizer-lhes que não estavam sós, que não me tinha esquecido deles, levar-lhes o espaço onde lhes fosse possível partilhar, falar, sobre estes últimos tempos…medos, receios, ansiedades e no fundo proporcionar um momento de escuta sincera, partilhando também eu as minhas saudades, os meus anseios, as minhas dúvidas e todos juntos, dentro do que já tínhamos aprendido trabalharmos o nosso sentir, o nosso corpo, o nosso pensamento.
Quem me conhece, sabe que sou acérrima defensora do contato humano, do toque, do afeto, do carinho, do abraço, mas sou também acérrima defensora de que não se “abandona” aqueles que mais confiam em nós em momentos em que nós próprios nos vimos confrontados com algo que nos era impensável, e sobre os quais fazemos e temos imensas resistências. Não seria justo. Não seria justo, sabendo eu, que os meninos pediam o Aprender a Ser, diziam que tinham saudades, que queriam falar um pouquinho, recusar-me a estar presente. Tenho consciência que a relação com as pessoas, as relações humanas, jamais se fazem através de um clique. Que as maiores aprendizagens estão na relação que se cria e nas experiências vividas, mas que as relações humanas também se fazem de reciprocidade. E é aqui que muitas vezes corremos o risco de falhar… e sim, acedi aos pedidos. E as aulas, não lhes chamei aulas, chamei ENCONTROS, tiveram lugar esta semana.
E sabem? Foi mágico.
Foi mágico porque os sorrisos, os olhares, o carinho na palavra saudade continuavam lá…através do ecrã! Constatei que a “ escola “ para mim são pessoas e do que temos mesmo saudade é uns dos outros…que a presença, seja lá ela como for, é fundamental…o importante é estarmos, estarmos de alma e coração, disponíveis para aqueles que de alguma forma um dia confiaram em nós, principalmente quando falamos de crianças e jovens, que em determinado momento se abriram, partilharam e esperam que em momentos tão confusos estejamos lá para elas, nem que seja para lhes dizer: “ não me esqueci de todos vocês” “ estou aqui, para vos ouvir, e dizer o quanto gosto de vocês e como são importantes na minha vida”. Para mim, a educação faz-se sempre, já que somos seres em constante aprendizagem. O isolamento esse, de alguma forma, sempre existiu nas escolas ( sim, o isolamento já existe há muito, só que não se via) e quero acreditar que apesar de todos os contras, e de não ver a máquina como futuro, este foi um momento onde todos percebemos que as pessoas gostam é de estar com pessoas.
Foram encontros deliciosos, que me encheram o coração. Falamos, sorrimos, partilhamos, cantamos, brincamos, meditamos, respiramos…enfim encontramos um espaço onde fomos nós próprios. E eu, tive a oportunidade de mais uma vez perceber, como o nome Aprender a Ser faz tanto sentido a este projeto e a mim enquanto facilitadora do mesmo.
Agora, resta-me em cada encontro levar a calma (sim porque ser calmo em momentos calmos é muito fácil, o complicado está em ser calmo no meio da confusão), a tranquilidade, a harmonia e a confiança de que em breve estaremos de novos juntos e num enorme abraço selar o que verdadeiramente importa. E o que é que verdadeiramente nos importa?
Teresa Barros – terapeuta/formadora