Ao interagir com um grupo de jovens em um Workshop, ouvi a seguinte frase que teve origem numa linda e saudável adolescente.
“Devíamos ser sempre crianças e nunca crescer”.
Quando a indaguei sobre o porquê desta frase, recebi a seguinte explicação:
“Porque assim teríamos sempre mimos e carinhos. A partir do momento em que crescemos os nossos pais e os outros adultos pensam que não precisamos mais de ser vistos ou tocados”.
A partir da coragem da colega em expor tal necessidade,muitos outros jovens que estavam no workshop acabaram por também compartilhar.
“Quando peço um abraço a minha mãe diz que já sou crescida”.
“Eu nem tenho coragem de pedir mimo, não tenho esta abertura com meus pais”.
“A minha tia diz sempre para eu parar com estas “criquices”.
O que se passa connosco, os adultos de hoje? Será que esquecemos que também somos carentes emocionais?
Por mais que tentemos negar, as carências emocionais estão presentes na nossa condição humana de existir. Só existimos porque aprendemos a viver em grupo, através da aprendizagem, da relação humana e do desenvolvimento dos vínculos ou laços afetivos
Qualquer que seja a nossa idade cronológica, somos seresde relação, que precisam de contato físico, que desejamamar e ser amados. Só com esta condição presente na nossa vida é que podemos crescer e reconhecermo-noscomo seres individuais saudáveis e capazes.
Ao longo do nosso crescimento, principalmente a partir daadolescência, temos de ter aprendizagens com o objetivo de nos tornarem fortes emocionalmente e independentes, duas características que nos preparam para as adversidades da vida adulta
No entanto, há famílias que entendem de forma errónea o conceito de força emocional.
A sensibilidade não pode ser traduzida como fraqueza. Não é privando um jovem de contacto, abraços, beijos ou outra forma de afeto que vou torná-lo forte e pronto para enfrentar as dificuldades da vida
Não é reforçando a repressão das emoções ou recriminando comportamentos expressivos das emoções (como o choro, medo, recusa) que tornamos osadolescentes em adultos fortes. Reforçar a repressão das emoções é um caminho para a somatização de sintomas e desenvolvimento de doenças futuras.
Este tipo abordagem educacional é prejudicial e perigoso. A pessoa que cresce sem a proximidade afetiva dos seus familiares entende que o mundo é um lugar hostil do qual deve defender-se. Então, cedo ou tarde desenvolverá raiva ou hostilidade, o que dificultará os vínculos relacionais.
Nesta mesma pedagogia (do afastamento afetivo), poderemos encontrar jovens que não receberam compreensão e atenção, e acabaram por se desligar do mundo familiar para se fecharem nos seus próprios universos, criando um escudo de ferro, um espaço perigoso onde acontecem factos problemáticos (distúrbios alimentares, contacto com drogas, más companhias…)
Há “mimos” físicos ou de contacto (um sorriso, um abraço, um olhar carinhoso…) e os “mimos” verbais (um elogio ou uma qualificação). Use e abuse destes “mimos”!Não esqueça que estes “mimos” são como um combustível necessário para reforçar as forças emocionais que impulsionam o jovem de hoje na direção de um futuro adulto saudável.
Glória Gonçalves