O que mais gosto na minha atividade profissional é o fato de trabalhar com o ser humano, desde a criança a terceira idade. Mas, é de fato nas crianças que reside a minha paixão, desde pequena me lembro de dizer que o meu sonho era trabalhar com crianças.
Efetivamente, trabalhar com esta população tão frágil nos dias de hoje não é tarefa fácil, a sociedade esta em constante mudança, as brincadeiras na terra, saltar a corda e jogar a macaca, praticamente deixaram de existir, onde o foco esta agora nas tecnologias, desde os telemóveis touch pad, aos tablet´s, as aplicações com jogos online, entre muitas mais coisas que dominam a pequena mente dos “nossos” pequenos.
Mas, apesar de isto tudo, ainda falta falar dos pais. Os pais são peças fundamentais para o bom desenvolvimento emocional e afetivo da criança. Sim, também eles vivem numa constante adaptação a nova sociedade e a toda esta evolução, onde ouço muitas vezes: “No meu tempo não era nada disto. ”
A minha experiência aconselha-me na importância de sensibilizar os pais e dar-lhes ferramentas para compreenderem o que esta a acontecer com os filhos. Assim, as crianças, com a ajuda dos pais, poderão enfrentar os seus medos e obter mais recursos para a exploração e expansão dos seus mundos internos e externos. Quando a criança percebe que alguém sente o mesmo que ela, encontra um porto seguro. Assim, a partir daqui, começa a crescer emocionalmente.
Nenhum comportamento é anormal, tudo tem uma causa. Determinadas atitudes, por mais inadequada ou estranhas que possam ser, resulta sempre da forma como a criança percepciona o mundo e se sente perante ela própria e os outros.
Existe um aspecto muito importante que não posso deixar passar, trata-se da gestação. Todo o mundo alerta as mulheres grávidas para a importância do cuidado da alimentação, ao consumo do álcool e drogas. Mas, pouco se fala do estado mental de uma mãe grávida, e este pode influenciar o comportamento do bebe depois do parto e durante vários anos.
Ocorre uma variedade de alterações hormonais e neuroquímicas para um bom funcionamento da gravidez. E uma dessas alterações, tem a ver como por exemplo, com a oxitocina, que tem um papel crucial no surgimento de comportamentos maternais antes e depois do parto. Ela é que movimenta os circuitos neuronais que promovem a vinculação entre a mãe e o bebe. Este desenvolvimento acontece no contexto de relações que implicam trocas de energias e de informação consciente e inconsciente.
As ferramentas de vinculação que a criança necessita não surge do nada: tem raízes no passado, ou seja, o meio e na herança genética que tem um peso determinante. A informação sobre aquilo que somos e a forma como nos sentimos é fisiológica. Apesar de todo o contexto envolvente possa alterá-la, em qualidade e quantidade, ela é transmitida ao bebe pela genética.
As pesquisas científicas relacionadas com a epigenética, que estuda o efeito do meio ambiente sobre os genes, evidencia cada vez mais que certas alterações na moléculas que controlam a expressão genética também podem ter um papel fundamental na transmissão das formas de sentir e comunicar. Como é possível? Toda a informação pode passar de geração em geração, que fica inscrita no espermatozoide e no óvulo que dão origem ao feto.
Existe muito ainda para dizer sobre o desenvolvimento emocional das crianças. A palavra emoção, vem da palavra latina “emovere“, que significa “por em movimento”. Uma emoção é o que faz com que o nosso espírito se mova ara pensamentos enriquecedores, neutros ou negativos. Os pensamentos levam-nos a atuar de um modo ou de outro, conduzem-nos a padrões de comportamento, a estados de humor. E tudo isto, dia após dia, ao longo de uma vida, faz a nossa forma de ser e sentir.
No próximo artigo, o mesmo tema será abordado tendo em conta os estágios de desenvolvimento da criança.
O Desenvolvimento Emocional da Criança – Parte I
Marta Pacheco
Bibliografia:
Estrada, M. M. (2016). Um Mapa para chegar ao coração de uma criança. Lisboa: Oficina Livro.
Sainz, P. (2015). Sentados e atentos. Lisboa: matéria prima.